domingo, 11 de dezembro de 2011

Flamengo, 30 anos do Mundial: do início à Libertadores

Uma geração de ouro que encantou o mundo. Assim podemos traduzir o time do Flamengo, campeão de todos os títulos possíveis desde o fim da década de 70 até meados dos anos 80. Mas para chegar até à conquista do Mundial Interclubes de 1981 a trajetória não foi tão fácil assim. A conquista da Copa Libertadores foi sofrida e, antes disso, a base do grupo vencedor esteve ameaçada.

Como tudo começou

Em 1978, o Flamengo foi para a decisão do Campeonato Carioca, diante do Vasco, com total responsabilidade do triunfo. Pesavam os últimos insucessos do clube na competição, quando não passou de mero coadjuvante em 75 e 76. Além disso, no ano anterior, em 1977, perdera o título para o Cruz-maltino, nos pênaltis.

O gol de Rondinelli, aos 41 minutos do segundo tempo na decisão de 1978 não só garantiu o título do segundo turno e do Carioca de forma antecipada, sem necessidade de final, como manteve na Gávea uma geração que poderia ter se perdido não fosse aquela cabeçada fulminante.



Análise tática de Mauro Beting

Em 1978, Toninho Baiano voava pela direita. Mas sem a qualidade técnica de Leandro. Com a presença de Claudio Adão no comando de ataque (que não pôde atuar na decisão contra o Vasco), o setor era muito mais técnico. Mas não funcionou tão bem como nos tempos de Nunes. Em 1978, na final, o treinador Cláudio Coutinho usou algo próximo a um 4-2-2-2. Mas a base do time era semelhante ao 4-3-3 em voga. Dois pontas, um centroavante, Zico próximo ao trio ofensivo, Adílio fazendo o vaivém, Carpegiani comandando a marcação e organizando o setor.

Na temporada seguinte, duas competições foram realizadas pela federação de futebol do Rio de Janeiro. Em ambas, o Rubro-Negro sobrou e levou a melhor, conseguindo a façanha de ser tricampeão carioca em dois anos. Com a Cidade Maravilhosa pintada de vermelho e preto, Zico e companhia continuaram sua saga e conquistaram o Brasil, em 1980, pela primeira vez na História.

- Depois daquilo, sabíamos que tínhamos condições de títulos ainda maiores. Fomos em busca disso - disse Zico.

Foi o ponto inicial para a brilhante saga rubro-negra rumo a América do Sul.

A caminhada pela Libertadores



A estreia na Copa Libertadores de 1981 foi em julho. Na fase de grupos, o Fla teve que enfrentar mais uma vez pelo Atlético-MG, com quem já havia decidido o Brasileiro, no ano anterior. Além do Galo, dois rivais paraguaios, o Cerro Porteño e o Olímpia. As duas equipes brasileiras terminaram com oito pontos, mas somente uma poderia obter a classificação. Em jogo desempate polêmico em Goiânia, o Atlético-MG teve cinco jogadores expulsos, e o Rubro-Negro foi declarado vencedor por 1 a 0.

A segunda fase da competição reuniu os primeiros lugares dos cinco grupos, além do Nacional (URU), campeão da edição anterior. A chave do Flamengo tinha o Deportivo Cali, da Colômbia (que havia eliminado os argentinos River Plate e Rosario Central) e o Jorge Wilstermann, da Bolívia. Em quatro jogos, quatro vitórias tranquilas, e o direito de jogar a final em sua primeira Libertadores.

Decisão inesquecível

O adversário da grande decisão foi o Cobreloa, do Chile. Os dois times possuíam as melhores campanhas da competição e estavam invictos. Os chilenos haviam eliminado os gigantes uruguaios Nacional e Peñarol. A primeira partida das finais aconteceu em um Maracanã lotado. Zico marcou dois gols para o Fla na primeira etapa e Merello diminui no segundo tempo.




Batalha no Chile

Em Santiago, no estádio Nacional, foi disputada a segunda partida da final. Ao Fla, um simples empate bastava para o título. Oito anos antes, o local do jogo serviu de campo de concentração no golpe de Estado no Chile. E podemos dizer que o que aconteceu naquele dia de novembro de 1981 foi uma verdadeira guerra, sobretudo por conta da equipe rival.

O zagueiro Mário Soto foi o protagonista da violência desvairada realizada pelos jogadores chilenos, ao distribuir pontapés e cotoveladas durante toda a jornada. Adílio e Lico foram os que mais sofreram com a covardia adversária. O ponta-esquerda teve o supercílio aberto, que lhe deixaria fora do terceiro e último duelo, já que Marellos marcaria a seis minutos do fim para o Cobreloa, impedindo o título rubro-negro, pelo menos naquele dia.

- A derrota foi até boa. Se tivéssemos sido campeões iria acontecer uma tragédia. Fomos intimidados do início ao fim em Santiago. Não iriam deixar a gente sair vivo dali. Ficamos preocupados. Eles batiam muito - revelou o ex-lateral-direito rubro-negro Leandro, em entrevista ao LNET!.


Vitória na bola

Com uma vitória para cada lado, Flamengo e Cobreloa disputaram no dia 23 de novembro a terceira partida decisão. Sem Lico, Carpegiani ousou taticamente: optou pelo lateral-direito Nei Dias, deslocando Leandro para o meio de campo e Adílio para a ponta-esquerda. Em campo neutro, no Estádio Centenário, no Uruguai, sem a forte pressão de sua torcida, a equipe chilena sucumbiu ao talento dos brasileiros. Com o craque Zico inspirado, o Rubro-Negro saiu na frente logo no início do jogo.

Sem abrir mão de sua virilidade, o Cobreloa esboçou uma reação na segunda etapa, mas sem êxito. Seu estilo violento irritava a comissão técnica do Fla. Na reta final do duelo, em cobrança de falta perfeita, o Galinho enterrou qualquer chance do rival, e mostrou que futebol se joga com a bola, e não desferindo pontapés.

Vitória na briga

Com o resultado na mão, Paulo César Carpegiani tomou uma decisão polêmica no banco. Após assistir os chilenos agindo covardemente ao bater em seus jogadores, ele colocou o reserva Anselmo com a missão de revidar o mais violento deles, o zagueiro Mário Soto.

- Ele bateu muito em todos os jogos das finais. Tirou o Lico do terceiro confronto. Soto usava uma pedra na mão para agredir meus jogadores. No finzinho, faltavam cinco minutos e ele pegou o Tita. Chamei o Anselmo e disse para arrepiar o Soto. O problema é que ele não disfarçou e esperou o melhor momento. Pelo contrário, o Anselmo foi lá e deu um soco no meio da cara - contou Carpegiani.

Na bola e no braço, Flamengo campeão da América.

Ficha técnica da decisão
Flamengo 2x0 Cobreloa

Local: Estádio Centenário (Montevidéu)
Data: 23 de novembro de 1981 (segunda-feira).
Árbitro: Roque Cerullo (Uruguai).
Público: 30.200 pagantes.
Gols: Zico 18' 1º/T (1-0), 39' 2º/T (2-0)

Flamengo: Raul; Nei Dias, Marinho, Mozer e Júnior; Leandro, Andrade e Zico, Tita, Nunes (Anselmo) e Adílio. Técnico: Paulo César Carpegiani.
Cobreloa: Wirth; Tabilo, Páez (Múñoz), Soto e Escobar; Jiménez, Merello e Alarcón; Puebla, Siviero, W. Olivera. Técnico: Vicente Cantatore.

Fonte: Lancenet

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